domingo, 27 de setembro de 2009

Instabilidade! O des-a–fio entre olhares.











Por Fafá Daltro
Coreógrafa Grupo X de Improvisação em Dança.
Profa. Dra. Escola de Dança da UFBA

A desestabilização, se no ato artístico, ou se durante os fazeres do cotidiano é parte de uma complexa rede de conexão alimentada através de colaborações e de compartilhamentos de idéias vindas de diversas pessoas, lugares e coisas que estão no entorno das nossas ações. Se longe, ou se perto, uma rede de cruzamentos de idéias sem fim, contribuem para que o sistema encontre suas estratégias de sobrevivência (ALBUQUERQUE, 2006). No caso X, a dança criada em cena, entendida como um sistema complexo que se organiza mediante um diálogo implicado e coerente entre os seus diversos elementos (subsistema) a dizer: o corpo do dançarino, a trajetória e qualidades do movimento, o deslocamento espacial, o figurino, a ambiência do espaço, a cumplicidade nos olhares e dos toques, iluminação, sonorização, todos esses elementos (subsistemas), se interconectados e implicados no fazer da dança estarão conspirando através de diálogos possíveis e aproximativos, para o bem da obra, para a emergência de seus significados. Deleitamo-nos com essas possibilidades, vivemos internamente esses riscos e desafios, vibramos com os tecidos poéticos construídos dos acordos entre os nossos olhares escrutinador, nossos movimentos pensados exposto no corpo, pela inteligência perceptiva que cercam nossos corpos no momento do fazer da dança. Propomo-nos aos riscos, as possibilidades móveis da rede e no tecido que é construído pelos nós, que, no tempo em que estabilidade, no outro, imediatamente desestabiliza impulsionando novos modos de agir, de agir de novo, e mais uma vez... Algumas vezes, acontecimentos, ruídos, podem interferir penetrando em áreas frágeis do sistema provocando rupturas, rompendo a interação, e nos quedamos desencantados por um deslize que no momento foi incontornável. Mas, vivemos as coisas do ambiente de forma similar, com uma freqüência grande de mobilidades e confrontamentos.
No sistema dança em improvisação a desestabilização também é uma constante e um importante acontecimento. Sua ambiguidade é um desafio a fisicalidade da função atentiva, exige a premência perceptiva e antecipatória (LLINÄS, 2002), aos acontecimentos do entorno, porque nós somos co-autores implicados na construção engendrada em cada poética que emerge, e elas se disseminam no olhar/corpo do espectador. O positivo do não dar certo, da sensação de incompletude que varre o corpo pode ser entendido como uma proposição, um desafio a novas incursões de interações. O nosso sistema perceptivo opera de acordo com as informações com as quais lida, condicionando o mundo que ele pode descrever. Portanto, estando as informações no corpo e no mundo, elas conformam-se como instâncias interligadas, o que nos faz co-dependentes, co-autores das coisas que cercam nossos ambientes. O rompimento abre o espaço para o diálogo...

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